Nova defesa de Flávio Bolsonaro tem quatro advogados e mira troca de juiz

Roberta Paduan

Frederick Wassef, que até domingo 21 defendia o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso que investiga a suposta prática de “rachadinha” (retenção ilegal de parte dos salários dos assessores) na Assembleia Legislativa do Rio, foi substituído por quatro advogados: os irmãos Luciana Barbosa Pires e Rodrigo Henrique Roca Pires e suas respectivas sócias, Juliana Bierrenbach e Renata Azevedo.

Os quatro são especialistas na defesa de militares, tanto das Forças Armadas, quanto da Polícia Militar fluminense. A equipe também tem experiência em atender políticos. Luciana, que já atuava com Flávio, foi advogada da ex-deputada Cidinha Campos por 15 anos. Roca, por sua vez, defendeu o ex-governador do Rio Sérgio Cabral. O advogado, que é contrário a acordos de delação premiada, deixou a defesa do ex-governador quando ele optou por fazer acordo de colaboração.

Na próxima quinta-feira, 25, a nova equipe de defesa passará pelo primeiro teste à frente do caso do senador. Os desembargadores da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) vão julgar um pedido de habeas corpus que questiona a competência do juiz de primeira instância, Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, para determinar as medidas cautelares do caso. Itabaiana determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal de Flávio, além da prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz na quinta-feira 18.

O habeas corpus foi apresentado por Luciana, que já advogava para o senador em questões eleitorais. Ela defende que, como Flávio era deputado estadual no período dos fatos investigados, entre 2007 e 2018, o juízo competente para o caso seria o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio. Se a tese for acatada pelos desembargadores, as decisões de Itabaiana podem ser consideradas nulas.

A nova equipe de defesa de Flávio parece ter perfil diferente do de Wassef. Aparentemente, será mais reservada nas conversas com a imprensa. Procurados, os dois escritórios (Luciana tem um e Roca outro) afirmaram que só se pronunciarão após o julgamento de quinta-feira.

Depoimento

Nesta segunda-feira pela manhã, a defesa de Flávio protocolou uma petição no MP para que o senador seja ouvido no âmbito da investigação. Trata-se de uma clara mudança na estratégia de defesa do senador, que preferiu não prestar depoimento anteriormente e tentou paralisar a investigação diversas vezes. Em nota enviada à redação, sua defesa afirmou que a oitiva é “de um direito seu esclarecer pessoalmente os fatos”.

Foi Luciana que convidou o irmão mais velho, Rodrigo Roca, a dividir a defesa de Flávio na investigação conduzida pelo MP do Rio de Janeiro. Ambos atuaram na defesa de militares indiciados por crimes cometidos durante a ditadura, após a reabertura de investigações pela Comissão da Verdade. Luciana costuma dizer a colegas mais próximos que eles “acabaram com a Comissão”, pois conseguiram arquivar todas os casos. Segundo os colegas, ela também comemorou a atual parceria com o irmão, dizendo que eles “têm a mesma ideologia”.

Os escritórios de Roca e Luciana também atuaram na defesa de figuras enroladas na Lava-Jato. Roca defendeu Sérgio Cabral até que o governador decidiu fazer delação premiada. Na época em que atendia Cabral, o advogado afirmou em entrevista que sofreu a maior derrota de sua carreira ao ver Sérgio Cabral acorrentado pelos braços e pelas pernas, referindo-se à transferência do Rio para o Paraná. ““Aquela cena do Sérgio Cabral sendo arrastado pelas correntes vai me assombrar pelo resto da minha vida. Aquela foi a maior derrota profissional que eu tive. Nunca mais eu vou conseguir desfazer aquilo. Eu lamento muito que isso tenha acontecido com um ser humano e por ter sido eu o advogado desse ser humano no momento. Eu fiquei muito abalado com aquilo”, declarou à imprensa na ocasião.

Luciana, por sua vez, foi responsável pela delação do empresário Leandro Camargo no âmbito da Operação Ressonância, que revelou um esquema criminosos de compra de próteses vencidas pela Secretaria de Saúde fluminense. A delação de seu cliente ajudou a condenar o ex-secretário de Saúde fluminense Sérgio Cortes, sentenciado a 16 anos e 9 meses de prisão, por crimes de corrupção passiva, lavagem de capitais e evasão de divisas, quando era diretor do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e posteriormente na secretaria, durante o governo de Cabral. Além de Côrtes, foram condenados a sua esposa, Verônica Fernandes Vianna, e os empresários do setor médico Miguel Skin e Gustavo Estellita.

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