Mandetta: “quem tem de se responsabilizar é quem se recusa a tomar a vacina”

Ex-ministro da Saúde, criticou medida cogitada pelo governo: “o Estado não deve terceirizar sua responsabilidade para o cidadão”

Eduardo Miranda

Ex-ministro da Saúde, o médico e ex-deputado federal, Luiz Henrique Mandetta (DEM), criticou a sugestão do presidente Jair Bolsonaro de obrigar o cidadão que se vacinar contra a Covid-19, assinar um termo em que se responsabiliza pelos eventuais efeitos colaterais do imunizante. Para Mandetta, se fosse para existir um termo assinado, seria para o cidadão que se recusar a tomar a vacina.

“Sou da opinião que deveria ser o contrário. A pessoa que não quiser se vacinar, sabendo tratar-se de uma doença infecciosa, sabendo que o hospital está superlotado, deveria assinar um termo de recusa”, afirmou o ex-ministro, em entrevista ao Correio do Estado, em Campo Grande.

“Não é ter um termo de consentimento que essa pessoa está querendo, e sim se livrar das consequências de sua recusa”, complementou Mandetta.

Para o ex-ministro é dever do Estado brasileiro e de seus governantes, analisar o risco e o benefício de ações coletivas, como a imunização. “O Estado não pode terceirizar para o cidadão”, explicou.

 

Polêmica

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), fez várias declarações polêmicas desencorajando o uso da vacina. A primeira delas foi na terça-feira (15), em que ele disse durante evento na Central de Abastecimento de São Paulo (Ceagesp). “Não vou vacinar e ponto final. Problema meu”, disparou.

No mesmo dia, o presidente afirmou que haveria vacina disponível, mas quem a quisesse, deveria assinar um termo de responsabilidade. Na quarta-feira (16), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao lançar o Plano de Vacinação, afirmou que será necessária a assinatura de um termo de responsabilidade apenas para quem tomar vacina de uso emergencial contra a Covid-19.

A medida é polêmica, e é criticada por parlamentares e especialistas. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o texto dessa forma não tramitará na casa. “Quem apresentem um destaque e vençam no plenário”, afirmou sobre o possível termo.

Especialistas afirmam que o papel da Anvisa, existe justamente o de fazer o controle da segurança da vacina, por ser um órgão de controle. Dessa forma, é o governo que se responsabiliza ao autorizar o imunizante.

Demora

Luiz Henrique Mandetta também criticou a estratégia do Ministério da Saúde, em apostar em somente uma única vacina, a da Universidade de Oxford-Astrazeneca, que está sendo desenvolvida no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz.

“Teria de ter aberto o espectro e ter feito o pedido para umas cinco (desenvolvedoras), que aí teríamos 30 milhões de um, 40 milhões de doses da outra”, analisou.

Conforme Mandetta, como serão vacinas diferentes que serão aplicadas, a escolha de múltiplas fontes, como fizeram países do hemisfério norte, seria a mais acertada.

“Agora eles fizeram uma encomenda da Pfizer, é o plano B. Só vamos ter vacina estruturada no fim do primeiro trimestre, no segundo trimestre e no terceiro trimestre e vamos para o quarto trimestre. Ou seja, nós vamos atravessar, 2021, o ano inteirinho vacinando a população”, disse o ex-ministro da Saúde.

No Brasil, a vacinação deve começar em meados de fevereiro, segundo o ministro, Eduardo Pazuello.

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