Arthur Guerra
Países como o pioneiro Uruguai, que possibilitou o uso recreativo em 2013 e, mais recentemente, o Canadá, em 2018, integram uma lista crescente de países que passaram a entender que fumar um cigarro de maconha não era motivação para prender ninguém. A legalização teve um grande impacto nas taxas de encarceramento no Canadá, por exemplo, principalmente de populações mais vulneráveis.
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Se a legalização do uso recreativo é uma tendência, é possível afirmar que tudo bem fumar maconha, que ela não causa tantos estragos quanto o álcool?
Essa é uma pergunta complicada, porque os padrões de uso e os efeitos no corpo no longo prazo são bem diferentes. O consumo de ambos cobra um preço da sua saúde.
Inicialmente, pode parecer que as bebidas alcoólicas são mais maléficas quando se constata que é possível morrer de overdose bebendo, enquanto isso não acontece com a maconha.
Isso não significa que a maconha seja melhor do que o álcool. É que os efeitos dela são mais sutis. Já existe crescente consenso de que fumar cannabis gera um grande impacto no cérebro de adolescentes e que o uso precoce aumenta as chances de aquele jovem desenvolver problemas cognitivos e o que se chama de síndrome amotivacional. Quer dizer, o garoto ou a garota, como eles próprios dizem, fica “lesado”, sem motivação para fazer nada. O uso de maconha pelos jovens também está associado à pior saúde mental.
O álcool, como todo mundo sabe, causa dependência. A maconha também. O fato de que nem todos que fazem uso dela ficarem viciados e conseguirem inclusive ser produtivos no trabalho e cuidar da família, não significa que ela não possa causar dependência. Médicos, como eu, veem diariamente nos nossos consultórios os males que o vício pode causar a alguém.
O crescimento no interesse das pessoas pela maconha também vem do fato de que ela é composta basicamente de duas substâncias: o THC, que gera o efeito prazeroso e viciante, e o CBD, o canabidiol, com propriedades medicinais muito importantes e comprovadas.
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Por isso, há um crescente número de remédios contendo canabidiol. Eles são usados para tratar casos de saúde mental como ansiedade e problemas do sono, crises convulsivas, para aumentar o apetite de pessoas que o perdem quando estão em quimio ou radioterapia, entre outros. Muitos lugares do mundo vêm reconhecendo também o uso terapêutico da maconha para pessoas, por exemplo, com quadros terminais de doenças como o câncer.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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