Joice diz que vai denunciar filhos de Bolsonaro por ameaças à sua família

Jorge Vasconcellos
Em um discurso emocionado da tribuna da Câmara, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, anunciou, na tarde desta terça-feira (5/10), que vai denunciar os três filhos políticos do presidente Jair Bolsonaro, “em todas as instâncias”, inclusive na Procuradoria-Geral da República (PGR), por ameaças que ela e os dois filhos têm recebido através de uma “gangue virtual”.

“Eu tenho dois filhos, uma jovem e um adolescente, de onze anos. Nenhum de vocês sabe como é o rosto dos meus filhos. Por que? Porque eles também foram ameaçados de morte. O meu mais novo, na semana passada, me disse: ‘mãe, porque estão chamando a senhora de porca na internet. Por que estão chamando a senhora de pig (porca em inglês) na internet? Não foi a senhora que ajudou tanto esse governo?'”, contou a parlamentar.

A relação entre Joice e o círculo próximo do presidente Jair Bolsonaro se deteriorou em meio à crise interna no PSL. Ela foi retirada da liderança do governo pelo presidente depois assinar uma lista do partido favorável à permanência do deputado Delegado Waldir (GO) na função líder da sigla na Câmara, em uma disputa que acabou sendo vencida por Eduardo Bolsonaro. Desde então, uma avalanche de ataques contra a deputada tomou conta das redes sociais.

“Essas lágrimas não são por mim, porque a minha história é a história de uma guerreira. Mas o meu filho, de onze anos, recebeu uma montagem minha, com o meu rosto e o corpo de uma prostituta, com o meu rosto e um corpo deformado, nu. Isso eu não vou admitir. E não vai ter homem, com mandato, sem mandato, seja o que for, deputado, senador, presidente, não me interessa. Não vai ter homem, nem mulher que vai fazer isso com a minha família. É pela minha família, porque se nós não pararmos essa esquizofrenia essa loucura, essa gangue, a gente não tem como reconstruir esse Brasil”, disse a parlamentar.

No discurso no plenário, Joice chamou de “criminosos” Eduardo Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSLRJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filhos do presidente da República.

“Não vou tolerar nenhum tipo de afronta, nem um tipo de crime, nem um tipo de calúnia, seja ela virtual ou não, de quem quer que seja, nem o filho do presidente da República. Levarei o senhor Eduardo Bolsonaro ao Conselho de Ética e à Procuradoria-Geral da República. Se eu conseguir ajudar a frear esse caos que está acontecendo, eu já fico muito feliz”, disse a parlamentar.

“Quando meu filho perguntou ‘porque estão fazendo isso com você?’, eu disse que é porque há criminosos. São criminosos. Aqueles que usam desse expediente são bandidos, e o Código Civil e o Código Penal não deixam de existir porque o ambiente é virtual. Eu buscarei a retratação, em todas as instâncias, de um por um. Eu fiz parte dessa campanha, eu sei quem é quem, e eu não vou compactuar com isso”, disse Joice.

“Os filhos que me atacam vão me enfrentar na Justiça, no Conselho de Ética, na PGR, nós vamos discutir dentro da lei. Eu não misturo as coisas. Gostaria que o chefe máximo desta nação também não misturasse. A presidência da República é muito maior que o puxadinho da cozinha de qualquer pessoa. O presidente da República representa a todos, até aqueles que não votaram nele. É o presidente de todos, o presidente da direita, do centro, da esquerda”, continuou a ex-líder do governo, que foi bastante aplaudida e recebeu apoio até de deputados da oposição.

Ela disse que já recebeu os IPs (endereços dos computadores) relacionados aos ataques  que vem sofrendo nas redes sociais. “Esssa quadrilha virtual, são mais de setecentas páginas que eu já acumulei de provas”, informou.

“Todos vocês viram e têm acompanhado o que estou passando. Já adianto que estou acionando muitos na Justiça. Vou conseguir quebrar os IPs. Chegaram os IPs de cada um. Vamos saber quem são os covardes, por trás dos perfis fakes. Vocês não tenham dúvida”, afirmou Joice Hasselmann, acrescentando que uma das ameaças ocorreu em 21 de outubro, horas antes de ela

participar do programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura.

“As ameaças continuam chegando. No dia da minha participação no Roda Viva eu recebi um e-mail gentil: ‘Se você entrar na TV Cultura, você não sai de lá viva’. Fui, dei a entrevista e estou aqui vivinha. Não tenho medo de ameaça, e vou seguir todos os trâmites legais”, declarou.

Joice disse que o presidente Bolsonaro “se apequenou” ao interferir na crise interna do PSL, protagonizando uma troca de acusações com o presidente da legenda, o deputado federal Luciano Bivar (PE).

Ela frisou, entretanto, que continuará apoiando os projetos do governo, por entender que são importantes para o desenvolvimento do Brasil.

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