Fortes chuvas causam mortes na Grande SP e rodízio é suspenso na capital paulista

Juliana Diógenes, Isabela Palhares e Paula Felix

SÃO PAULO – As fortes chuvas que atingiram a cidade de São Paulo e o Grande ABC na noite de domingo e na madrugada desta segunda-feira, 11, causaram diversos transtornos. Por volta das 16h50, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) confirmou 12 mortes em decorrência do temporal. Além dos mortos, há ainda seis feridos.

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Somente em Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo, foram registrados quatro óbitos e dois feridos no desabamento de uma casa após deslizamento de terra. As outras mortes foram registradas em São Caetano (3), Santo André (2), Embu das Artes (1), São Bernardo (1) e São Paulo (1).

Na avenida do Estado, na divisa entre São Paulo e São Caetano do Sul, quatro pessoas foram arrastadas pela enxurrada, de acordo com a Defesa Civil. Outras 12 pessoas foram resgatadas na capital paulista pelo Corpo de Bombeiros, sendo quatro mulheres e 8 crianças.

Com o transbordamento do Rio Tamanduateí, a situação na região do Ipiranga, na zona sul, é a mais crítica. A área estava em estado de alerta desde 20h40 deste domingo. Ao meio-dia desta segunda, o CGE informou o fim do estado de atenção no Ipiranga. As Marginais do Pinheiros e do Tietê ficaram travadas em diversos pontos e os motoristas saíram dos veículos enquanto aguardavam o trânsito desafogar.

Em São Bernardo do Campo, um motociclista morreu afogado. Foram registrados na cidade muitos alagamentos e quedas de árvore. Um deslizamento em Embu das Artes teve três vítimas socorridas – sendo uma delas uma criança que veio a óbito no hospital. Santo André teve uma vítima de afogamento e muitos alagamentos. São Caetano do Sul também sofreu com muitos pontos de alagamento.

Ipiranga

Além da região metropolitana, na capital a situação mais crítica se deu no Ipiranga, bairro da zona sul. O bairro ficou em estado de alerta entre 20 horas deste domingo e 12 horas de segunda. O Córrego do Ipiranga, o rio Ribeirão dos Meninos e o rio Tamanduateí transbordaram.

Alagamento causado por forte chuva no bairro da Casa Verde, na zona norte de São Paulo © Felipe Rau/Estadão Alagamento causado por forte chuva no bairro da Casa Verde, na zona norte de São Paulo

Em São Paulo, no Parque São Rafael, divisa com o Grande ABC Paulista, um deslizamento de terra deixou uma mãe e duas crianças feridas. Uma das menores está em estado grave e recebeu atendimento em um PS em Sapopemba, de acordo com o Corpo de Bombeiros.

Somente na capital, entre meia-noite e 10h20, os bombeiros receberam 78 acionamentos de quedas de árvore, 76 chamados sobre desmoronamentos e desabamentos e 698 ocorrências de enchentes e alagamentos.

A Prefeitura de São Paulo convocou às pressas uma coletiva de imprensa sem a participação do prefeito Bruno Covas (PSDB), de licença por motivos pessoais. No lugar dele, como prefeito em exercício, está o vereador e presidente da Câmara Municipal Eduardo Tuma.

Com o transbordamento do Rio Tamanduateí, pelo menos dois muros desabaram na Avenida do Estado, que acumula também lixo e lama. Moradores chegaram a pescar um peixe no local.

Marginal do Rio Tietê na região das Pontes do Limão e Julio de Mesquita Neto © Helvio Romero/Estadão Marginal do Rio Tietê na região das Pontes do Limão e Julio de Mesquita Neto
Moradores da Rua Manifesto, no Ipiranga, que é paralela à Avenida do Estado, não conseguiam contabilizar os prejuízos na manhã desta segunda. A rua ficou inundada e moradores precisaram ser resgatados com um bote pelos bombeiros. Durante esta manhã, eles tiravam a lama de dentro de casa e jogavam os móveis que ficaram destruídos.

“Moro aqui desde 2006 e nunca passei por nada nesse nível. Perdi rack, poltrona, cadeira, cama. A geladeira e a máquina de lavar estão tombadas e nem sei se estão funcionando”, diz a dona de casa Daniela Simões dos Reis, de 38 anos.

Ela chora ao se lembrar de como foi o resgate. “Meu marido saiu do trabalho e não conseguia chegar em casa. Estava com a minha mãe, que é cadeirante, meu filho de 9 anos e a cachorra. Fiquei desesperada, gritando. Quando saímos, a água já estava no pescoço.”

Em um condomínio na mesma rua, carros que estavam em dois andares de garagem foram cobertos pela água. Moradores estimam que havia cerca de 150 veículos no local. Condôminos tentavam drenar a água.

“Meu carro está embaixo d’água. Não consegui levar minha filha na escola nem ir para o trabalho”, diz a fisioterapeuta Fernanda Cristófaro, de 40 anos.

Moradora do condomínio, a professora Paula Aurelice Ramos de Oliveira, de 30 anos, disse que a água invadiu os andares de garagem pelas escadas e pela rampa de um prédio anexo onde outros veículos ficam estacionados. O prédio onde ela mora, de 21 andares com quatro apartamentos em casa um, foi evacuado no início da tarde. Uma mangueira foi colocada na rampa da garagem na tentativa de drenar a água.

Chuva derrubou muro na Avenida do Estado, região sul de São Paulo © Felipe Rau/Estadão Chuva derrubou muro na Avenida do Estado, região sul de São Paulo
Segundo Paula, bombeiros identificaram o vazamento de uma substância. Moradores devem ficar fora de seus apartamentos por pelo menos dois dias. “A orientação foi que as pessoas procurassem casas de parentes ou amigos”, conta Paula, que se abrigou na casa da mãe, a poucas quadras do prédio onde mora.

“Muita gente ficou em casa e não foi trabalhar. Todo mundo está preocupado com os veículos. Em um andar, a água invadiu e inundou completamente. Em outro, só dá para ver o rack, o suporte no teto do carro”, conta. “Vários alarmes dispararam a noite inteira. Ninguém sabe se vai ser o caso de acionar o seguro ou não. O pior é que o documento do meu carro ficou lá dentro. Menos mal que não tinha mais coisa.”

Galhos e lama invadiram o jardim do prédio, além da portaria. Paula acordou às 4h30 com gritos de “Socorro!” dos vizinhos da casa de baixo, que pediam ajuda para sair. Ela viu quando os bombeiros chegaram em um bote e resgataram quatro pessoas.

“Nunca vi nada que fosse tão assustador. A rua e o rio viraram uma coisa só. Conforme a água foi baixando durante a manhã, foram surgindo carros que haviam ficado completamente submersos”, diz.

Rodízio e zona azul suspensos

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) suspendeu o rodízio e a zona azul em toda a capital em razão do temporal. A Companhia do Metropolitanao (Metrô) informou que todas as linhas de metrô funcionam normalmente.

Durante a manhã, a cidade chegou a ter 180 km de congestionamento, segundo pior índice do ano, desde de 2 de fevereiro, quando foram registrados 202 km.

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), por volta das 9 horas se acumulavam na capital paulista 27 pontos de alagamento, sendo 15 transitáveis e 12 intrasitáveis.

Após 4 horas parado no trânsito, trio desiste de ir ao trabalho e volta a pé para casa © Viviane Bittencourt/Estadão Após 4 horas parado no trânsito, trio desiste de ir ao trabalho e volta a pé para casa
O analista de TI André Fernandes, de 32 anos, o analista de Telecom Maurício Cardoso, 35, e o analista de projetos em TI, Rafael Nunes, 28, estavam em um veículo fretado e se deslocavam para o trabalho em Alphaville, em Barueri, na região metropolitana.

Eles saíram de casa às 6 horas e até as 10 horas só haviam conseguido chegar até a Ponte do Tatuapé, onde ficaram travados em função do engarrafamento na Marginal do Tietê. Eles desceram do fretado e voltaram a pé para casa.

Apesar dos congestionamentos, a tempestade perdeu força e não há mais registro de precipitações, de acordo com o CGE. Na região do Grande ABC, o rio Tamanduateí e seus afluentes ainda estão com as cotas muito elevadas ou extravasadas, o que ainda mantém regiões em estado de alerta por precaução.

SPTrans informou que a operação dos ônibus está prejudicada em razão das fortes chuvas. O Expresso Tiradentes teve sua operação paralisada. Os ônibus de oito linhas não estão circulando pela Marginal Tietê, abaixo da Ponte das Bandeiras, e fazem desvios pela rua Voluntários da Pátria, rua Santa Eulália e avenida Santos Dummont.

Outro ponto intransitável foi o trecho entre as avenidas Paes de Barros e Luiz Ignacio de Anhaia Mello, por onde passam coletivos de 13 linhas. Alguns ônibus estão ilhados na avenida do Estado e na região de Vila Prudente. A avenida Sumaré ficou interditada no sentido Turiassu por causa de queda de árvore.

A Linha 10-Turquesa da CPTM ficou paralisada em razão de alagamentos. Às 11h30, a cidade registrava 84 quilômetros de lentidão, engarrafamento acima da média para o horário, que normalmente registra entre 21 e 57 km.

A área mais crítica da cidade é a Marginal do Tietê, sentido Rodovia Ayrton Senna, da Ponte Atílio Fontana até a Ponte das Bandeiras, com 10,4 quilômetros de trânsito paralisado.

Às 8 horas, a cidade atingiu 100 quilômetros de congestionamento. A região mais prejudicada no horário de pico da manhã foi a zona leste, que chegou a ter 35 km de lentidão, seguida pela zona oeste, que atingiu 32 km de congestionamento.

Durante a madrugada, foi emitido um estado de alerta para a Marginal Tietê em razão da possibilidade de transbordamento do Rio Tietê na Ponte do Piqueri e na Ponte Dutra.

‘Não havia ação preventiva que pudesse corrigir o que aconteceu em SP’

Com as chuvas, a Prefeitura de São Paulo suspendeu o rodízio de veículos nesta segunda-feira © Felipe Rau/Estadão Com as chuvas, a Prefeitura de São Paulo suspendeu o rodízio de veículos nesta segunda-feira
Prefeito em exercício de São Paulo, Eduardo Tuma, diz que não havia nada que pudesse ter sido feito antes para evitar a tragédia que aconteceu na cidade com a forte chuva da madrugada desta segunda-feira.

“Não havia ação preventiva que pudesse corrigir o que aconteceu. O volume de chuva foi muito maior do que o esperado”, disse. Tuma assumiu o comando a cidade nesta segunda-feira, após o prefeito Bruno Covas se licenciar por 15 dias por motivo pessoais.

A prefeitura não informou onde Covas está, mas Tuma destacou diversas vezes que o prefeito “está presente” mesmo licenciado e, de longe, coordena as ações. Questionado se o prefeito pretendia retornar da licença antes do previsto, Tuma não respondeu.

O coronel José Roberto, secretário de Segurança Urbana, disse que a situação excepcional ocorreu porque o esperado de chuva para todo o mês seria 170 mm, mas o acumulado dos últimos 11 dias já ultrapassa 160mm. “Desde 2006 não tínhamos um volume tão grande de chuva na cidade. E em alguns pontos da cidade, como na Vila Prudente e Ipiranga, o volume foi ainda maior”, disse.

Tuma e os secretários insistiram que a prefeitura adotou todas as ações que eram necessárias. Alexandre Modonezi, secretário das subprefeituras, disse que a limpeza de bocas de lobo e galerias estava sendo feita, mas não suportou o volume de água que veio dos rios que transbordaram. “Não era água da rua, mas dos rios”, disse.

Caminhões de hidrojato, que desentopem as bocas de lobo e galerias, estão em operação na marginal Tietê e no Ipiranga para ajudar a drenar a água. Desses caminhões, 14 estão na marginal – que, segundo a prefeitura, continua intransitável em alguns pontos da faixa central.

Marginais do Tietê e Pinheiros

Ponte Jornalista Braz Romano, que dá acesso à Marginal do Tietê, completamente travada nesta manhã © Vivane Bittencourt/Estadão Ponte Jornalista Braz Romano, que dá acesso à Marginal do Tietê, completamente travada nesta manhã
Com o transbordamento dos rios, as Marginais do Pinheiros e do Tietê estão engarrafadas nesta manhã.

O trânsito está travado para quem tenta acessar a Marginal do Tietê no acesso pela ponte Jornalista Braz Jaime Romano, na região de Tatuapé, zona leste, sentido Rodovia do Castello Branco. Os motoristas saem dos carros e aguardam do lado de fora.

Na pista expressa da Marginal do Tietê, próximo à Ponte do Tatuapé, motoqueiros circulam na contramão para tentar sair do engarrafamento.

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