Com indiretas a Bolsonaro, Temer diz que nunca houve divergências entre setores em seu governo

BRASÍLIA – Com indiretas ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), Michel Temer afirmou, na noite desta terça-feira, 30, que não houve divergências entre os setores do meio ambiente e da agroindústria no seu governo e defendeu as relações do Brasil com os países do Mercosul. Temer afirmou ainda que é preciso pregar a “pacificação” após o término da eleição e pediu a colaboração dos oposicionistas.

Dois dias após a vitória de Bolsonaro, Temer também disse que tomou medidas com responsabilidade fiscal em sua gestão e que “o aplauso vem depois”. “Houve forte oposição ao teto de gastos, que chamavam de PEC da morte, porque no nosso País existe a cultura de que as pessoas devem gastar tudo o que pode para tomar medidas populistas, que primeiro são aplaudidas, mas depois são vaiadas”, criticou.

O presidente recebeu o Grande Colar da Ordem do Mérito Industrial como homenagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, na noite desta terça-feira. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), e os ministros Marcos Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Eliseu Padilha (Casa Civil) também participaram do evento.

Temer dividiu a premiação com seus colegas do Executivo e do Legislativo, dizendo que o seu governo atuou com “diálogo, serenidade, tranquilidade e naturalidade”. “Enfrentamos tormentas, mas na verdade superamos todas elas”, ponderou.

Em seu discurso, Temer mencionou questões polêmicas levantadas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro e seus aliados nos últimos dias. Ele disse que a palavra “temperança” pautou a sua conduta em vários setores e que não houve “nenhuma divergência” em sua equipe, mencionando os setores da agroindústria e do meio ambiente. Nesta terça-feira, a equipe de Bolsonaro confirmou que Agricultura e Meio Ambiente vão compor a mesma pasta.

“Sempre soubemos ficar acima dos acontecimentos, porque quando você se envolve demais acaba prejudicando a sua própria atuação. E quando ficamos acima dos acontecimentos triviais conseguimos unidade absoluta no nosso governo”, discursou.

Ele comemorou que, durante a sua gestão, houve avanços nas tratativas com o Mercosul, ponderando que isso não se limita apenas aos países do bloco (Argentina, Uruguai, Paraguai. “Progredimos no Mercosul, que às vezes recebe críticas. Fizemos aliança com a Aliança do Pacífico, em encontro no México, e avançamos no acordo com a União Europeia visando um melhor relacionamento. Tudo isso foi fruto do entusiasmo do povo brasileiro que não pode ser perdido”, defendeu Temer.

Na segunda-feira, 29, o futuro ministro da Fazenda e do Planejamento, Paulo Guedes, disse que o bloco sul-americano não será prioridade do novo governo. O economista argumentou ainda que o Mercosul é “muito restritivo, o Brasil ficou prisioneiro de alianças ideológicas e isso é ruim para a economia”. Ele também disse que o bloco, formado só negociava com quem tinha “inclinações bolivarianas”, mas que isso não ocorrerá mais.

Temer disse ainda que “devemos repudiar toda e qualquer tentativa de divisão do povo”. Passada a eleição, quando avaliou que os “ódios se acentuaram e disputas partiram quase para o confronto físico”, o presidente afirmou que oposição e situação devem atuar em conjunto em busca do “bem comum”. “Aqui no Brasil, o dever da oposição é destruir o governo, e não colaborar com a situação, quando na verdade a função da oposição é fundamental porque serve para fiscalizar atos do governo que podem ser modificados com base na crítica.”

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, elogiou o governo Temer. “Seu governo tirou brasil da mais profunda crise econômica e tem colocado energia na defesa dos interesses econômicos”, disse. Ele afirmou ainda que o atual presidente “sempre agiu com tolerância, como democrata e com grande respeito à Constituição” e que ele “não mediu esforços para manter interlocução com indústria.”

Em nota divulgada antes do evento, Andrade se posicionou contra a extinção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, anunciada por Paulo Guedes hoje. “A eventual perda de status do MDIC colocaria o Brasil, portanto, na contramão dessa tendência e reduziria a nossa capacidade em negociações internacionais”, escreveu.

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