Lula se reúne por uma hora com o papa e diz que não falou de Bolsonaro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou por cerca de uma hora com o papa Francisco em audiência privada na residência Santa Marta, no Vaticano, acompanhado do ex-chanceler Celso Amorim e do fotógrafo oficial Ricardo Stuckert, que registrou o encontro. Os dois já haviam trocado correspondência em 2018, quando Lula esteve preso  em Curitiba após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em processo da Operação Lava Jato.

Na saída, o petista disse ter conversado com o religioso sobre desigualdade social, perda de direitos dos trabalhadores pelo mundo e da necessidade de mais empenho dos governantes na questão ambiental. Segundo o ex-presidente, eles também falaram sobre a importância da luta dos jovens – o Vaticano organizará um evento da juventude em Assis, na Itália, em março, com cerca de 500 jovens economistas, para discutir caminhos para a economia mundial.

“O mundo está ficando mais desigual e maioria dos trabalhadores está perdendo direitos”, disse Lula em pronunciamento para jornalistas após o encontro. “Muitas das conquistas que tivemos no século XX estão sendo derrubadas pela ganância dos interesses empresariais e financeiros”.  O petista também criticou o sistema financeiro e a especulação que marca a economia mundial. “Hoje se ganha dinheiro produzindo papéis e vendendo facilidades ao invés de ganhar fabricando produtos e gerando empregos”, afirmou em entrevista.

De acordo com Lula, o papa, que tem 83 anos, “quer fazer coisas que sejam irreversíveis, que fiquem para sempre no seio da sociedade”. “Se todo ser humano, ao atingir 84 anos (o papa chegará a essa idade em dezembro), tiver a força, a disposição e a garra que ele tem, de levantar temas instigantes para o debate, a gente poderá encontrar soluções mais fáceis”.

À reportagem do jornal O Globo, Lula disse que não tratou de qualquer assunto relacionado ao presidente Jair Bolsonaro. ‘Não podia vir aqui para discutir Bolsonaro’, afirmou. Depois da audiência, ele iria encontrar juristas, como Franco Ipolitto, ex-presidente da Suprema Corte da Itália, e Luigi Ferrajoli, que o ajudaram na campanha do petista no exterior contra a sua condenação e o que considera abusos da Lava Jato.

Na quarta-feira, Lula já havia se encontrado com o ministro de Economia e Finanças da Itália, Roberto Gualtieri, o sociólogo Domenico de Masi e o ex-primeiro-ministro Massimo D’Alema, além de representantes do Comitê Lula Livre na Itália. O ex-presidente também teria nesta quinta-feira encontro com organizações sindicais de trabalhadores. Na entrevista, ele afirmou que se inspirou no sindicalismo italiano para liderar o movimento de operários no ABC paulista que catapultou sua carreira política.

Além de Amorim e Stuckert, também acompanham Lula na Itália os advogados Cristiano Zanin Martins e Manoel Caetano.

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