“É grave o comportamento do governo brasileiro em relação às queimadas”, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que o presidente Jair Bolsonaro está condenado a perder se quiser peitar a comunidade internacional. A declaração foi feita em entrevista à RFI em Buenos Aires, na última sexta-feira (23).

FHC considera que a perda da reputação em matéria de meio ambiente afeta a diplomacia brasileira e que a reação das forças sociais brasileiras serão cruciais na disputa entre aceitar as queimadas ou preferir o desenvolvimento sustentável.

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se o presidente Jair Bolsonaro quiser enfrentar toda a pressão internacional estará condenado a perder no confronto porque “o Brasil não tem força para peitar o mundo”.

“Se ele peitar toda a pressão internacional, ele está condenado a perder. Nós não temos força para peitar o mundo”, adverte.

“Se falar muito, atrapalha”

De qualquer forma, Fernando Henrique considera que é pouco o que a comunidade internacional possa fazer, para além de criticar. “E, se falar muito, atrapalha”, avisa.

“É pouco (o que a comunidade internacional pode fazer). E, se falar muito, atrapalha porque fortalece a visão de interferência externa. O sentimento muito arraigado nas novas gerações e nos países centrais é o de preservação”, considera FHC.

Fernando Henrique Cardoso avaliou o comportamento de Jair Bolsonaro como “grave” e que o desgaste na imagem do Brasil afeta o poder da sua diplomacia numa matéria em que o Brasil tinha reputação. “É um erro do governo”, aponta.

Perigo de rejeição ao Brasil

“É grave (o comportamento do governo brasileiro). É grave porque se desatam forças irracionais. Começa a haver uma rejeição à imagem do Brasil. O Brasil tinha uma posição bastante tranquila no chamado softpower (poder suave da diplomacia) em função basicamente dos avanços do Brasil na questão do clima. Por que perder isso? É um erro, a meu ver, do governo”, avalia.

O ex-presidente também criticou o governo de Jair Bolsonaro na sua atitude de negar as evidências e indicou que o ponto central na discussão não é o papel da ONGs, mas o interesse do próprio Brasil de ter uma agricultura sustentável, algo que “o grande agronegócio brasileiro sabe”.

“Achei um pouco rude o governo do Brasil negar as evidências. E despropositadas porque os nossos interesses vão por outro lado. O grande agronegócio brasileiro sabe disso. Tem-se comportado crescentemente de uma maneira racional. Eu não sei por que o governo resolveu achar que é uma manobra dos estrangeiros e das ONGs contra nós. Pode haver. Há desinformação também. Mas não é o central. O central é que nós temos de cuidar do nosso próprio interesse. E é do nosso interesse ter uma agricultura sustentável”, afirma.

O mas importante, sublinha FHC, é ver qual será a reação das forças sociais brasileiras. “Vão comprar a ideia de queimadas?”, questiona.

“É preciso ver o que vão fazer as forças sociais do Brasil. Nós vamos comprar essa ideia (de Bolsonaro sobre o clima) ou vamos achar que nos interessa mais o desenvolvimento sustentável do que simplesmente apoiar as queimadas?”, indaga.

Desgaste com a sociedade

Fernando Henrique Cardoso também observa um desgaste na relação do governo com a sociedade. Desgaste por uma postura radical que se choca contra a cultura nacional.

“É difícil que prevaleça essa posição de radicalismo, de intransigência e de negatividade. Isso vai muito contra a cultura nacional, contra o modo de ser brasileiro. O modo de ser do brasileiro é mais de transigência, de aceitação”, conclui.

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