De Queiroz a Marielle, todos os casos que esbarram em Flávio Bolsonaro

Clara Cerioni

São Paulo — O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) está na mira das autoridades brasileiras. Nesta terça-feira (22), o noticiário trouxe novas revelações sobre esquemas envolvendo o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro.

Pela manhã, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro realizou uma operação em Rio das Pedras, zona oeste carioca, para prender cinco suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

Os principais alvos da operação eram figuras envolvidas com uma milícia, grupo paramilitar formado por membros de forças de segurança, como policiais e bombeiros militares.

Entre as pessoas com mandado de prisão estava o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Adriano Magalhães da Nóbrega, tido pelo Ministério Público do Rio como o homem-forte do Escritório do Crime, organização suspeita de ter sido a mandante do crime contra a vereadora. Ele não foi encontrado e está foragido.

A operação traz novos elementos sobre as circunstâncias envolvidas nas mortes de Marielle e Anderson, que completaram dez meses no último dia 14.

No entanto, a ação da Caego também serviu para revelar uma nova informação. Reportagem do jornal O Globo desta terça mostrou que a mãe e a esposa de Nóbrega foram empregadas no gabinete do senador eleito Flávio Bolsonaro. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro confirmou a informação.

Segundo registros, a mãe, Raimunda Veras Magalhães, e a mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ocuparam cargos no gabinete de Flávio, quando ele ainda era deputado estadual. Ambas foram exoneradas em 13 de novembro do ano passado.

Envolvimento no caso Queiroz

Mais do que funcionária do gabinete de Flávio, Raimunda é apontada também como uma das servidoras que fizeram repasses para a conta de Fabrício Queiroz — ex-assessor e ex-motorista de Flávio suspeito de movimentações “atípicas”, no valor de 7 milhões de reais em 4 anos.

De acordo o relatório do Coaf (Controle de Atividades Financeiras), a ex-assessora, de 68 anos, repassou 4,6 mil reais para a conta do ex-assessor.

Com a repercussão das acusações, Flávio se pronunciou por meio de suas redes sociais. Ele afirmou que “continua sendo vítima de uma campanha difamatória com objetivo de atingir o governo de Jair Bolsonaro” e responsabilizou o ex-assessor Fabrício Queiroz pela contratação de Raimunda.

Mais tarde, Queiroz também emitiu um comunicado por meio de seus advogados confirmando a declaração de Flávio de que ele havia feito a indicação da mãe de Nóbrega.

Nota assinada pelo advogado Paulo Márcio Ennes Klein, que trabalha na defesa de Queiroz, informa que o seu cliente “é ex-policial militar e conheceu o sr. Adriano [Nóbrega] na época em que ambos trabalhavam no 18º Batalhão da Polícia Militar e, após a nomeação dele como assessor do ex-deputado estadual solicitou ao gabinete moção para o sr. Adriano, bem como a nomeação dele para trabalhar no referido gabinete, em razão dos elevados índices de êxito na condução das ocorrências policiais registradas, até então, na equipe em que trabalhava na PM.”

O hoje presidente Jair Bolsonaro já chegou a defender publicamente a atuação de milicianos. Em 2008, quando era deputado federal, ele disse que “elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas”.

Movimentações de Flávio

As novas notícias sobre Nóbrega e Flávio se somam a uma série de revelações, que corriam em paralelo, que desgastaram o discurso anticorrupção que ajudou a eleger Jair Bolsonaro.

Na sexta-feira (18), reportagem do Jornal Nacional mostrou que em um mês quase 50 depósitos em dinheiro foram feitos numa conta do senador eleito.

A suspeita é a de que funcionários dos gabinetes, gerenciados por Fabrício Queiroz, devolviam parte dos salários, numa operação comum nos Legislativos e conhecida como “rachadinha”.

O registro, de acordo com a reportagem, traz dados sobre movimentações financeiras de Flávio entre junho e julho de 2017.

No total, foram 48 depósitos em espécie na conta do senador eleito, “concentrados no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), e sempre no mesmo valor: 2 mil reais”. Ao todo, foram 96 mil reais depositados em cinco dias.

No sábado (19), outra matéria no Jornal Nacional mostrou que Flávio pagou um título bancário da Caixa Econômica Federal no valor de 1 milhão de reais.

No dia seguinte, no domingo (20), em entrevista à TV Record, Flávio deu a explicação de que as movimentações eram resultado de vendas de imóveis.

Ele levou papéis para confirmar sua versão, mas não quis mostrá-los, afirmando que a imprensa não é o foro adequado para esse tipo de esclarecimento.

Na segunda-feira (21), o comprador de um dos imóveis, o ex-jogador de vôlei de praia Fábio Guerra, foi à público para confirmar a versão do senador eleito.

Segundo Guerra, ele pagou 100 mil reais em dinheiro pela compra de um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, em 2017.

Porém, a escritura registra que o senador recebeu 600 mil reais mais dois outros imóveis pela venda desse apartamento três meses antes das operações consideradas atípicas pelo Coaf.

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