Aos 10 anos, Ester segue os passos do avô na paixão pela música

CRISTINA MEDEIROS

Ela conta que aos 4 anos já se metia no meio dos alunos do avô Jorcy Neves Luís, 79 anos, – criador da Orquestra Violeiros Mirins de Campo Grande – e queria se sentir parte daquele universo. “Claro que eu não sabia tocar, então, pegava o violão e arrastava no meio dos guris, pedindo para afinar”, conta a menina Ester Dias de Oliveira, hoje com 10 anos, que de lá para cá nunca mais largou o violão e, principalmente, a viola caipira de 10 cordas, seu instrumento preferido.

Criada pelo avô Jorcy e pela avó Sebastiana Dias Neves (coordenadora da orquestra), desde cedo mostrou interesse em aprender a tocar o instrumento. “Pedi para ele me ensinar, porque, mesmo sendo pequena, se todo mundo conseguia aprender, eu também podia, né?!”.

Desinibida, comunicativa e demonstrando amor incondicional pela música caipira, Ester conta, com orgulho, que será a herdeira musical do avô. “Ele bem que tentou ensinar minha mãe e meus tios, mas ninguém aprendeu, não tocam nada. Mesmo quase não enxergando [o avô tem baixa visão], ele me ensinava. Era um pouco difícil para os dois, principalmente para ele, porque eu era agitada e queria aprender tudo logo. Meu avô me ensinou tudo o que eu sei, mesmo tocando de ouvido”.

Sobre a neta, Jorcy é só elogios. “Tenho uma herdeira que é apaixonada pela música caipira. Ela sempre foi uma boa aluna no violão, mas se superou na viola caipira. Além disso, toca teclado e berrante como ninguém”, diz ele.

A dedicação ao aprendizado da música rendeu a Ester um inestimável presente. “Ganhei do meu avô a viola caipira dele, foi muito lindo. E aprendi a tocar pagode de viola. Sim, porque, se você toca viola caipira e não sabe tocar pagode de viola, não pode ser chamado de violeiro”.

Assim, João Carreiro e Pardinho, Délio e Delinha, Cacique e Pajé, Almir Sater, Rolando Boldrin, entre tantos outros nomes da música caipira estão entre os preferidos da menina. “Também gosto do Alex e Ivan e da Bruna Viola, mas as músicas dela são difíceis, estou tentando aprender”.

Para quem acha que a rotina de Ester se divide apenas entre a escola, a casa e a algumas apresentações na Orquestra do avô, está muito enganado.

“Além de tocar, eu também canto. E então minha família achou que seria legal me apresentar”. Surgiu, então, Ester Só Viola, que conta com a participação de Luis Eduardo no contrabaixo e Guilerson (o Grilo), na segunda voz.

“Tudo começou no fim do ano passado. A gente começou a tocar demais por aí, em bingo, chácara, aniversário, almoço beneficente. No Dia das Crianças, durante uma apresentação, um radialista me viu lá e convidou para apresentar um programa de rádio”.

Sim, é isso mesmo! Ester, que concluiu a quinta série este ano, apresenta o programa “Jovem Sertanejo”, sempre aos sábados, das 14h às 16h, na rádio NT (Notícias do Transporte), que pode ser baixada pelo aplicativo ou por meio de um link. “Apresento o programa sozinha. Agora, já está muito mais fácil, decoro todas as músicas que vou apresentar. O ouvinte pode pedir música e também me ouvir tocar ao vivo”.
Sobre fazer muitas coisas ao mesmo tempo, com tão pouca idade, a menina é taxativa. “Sabe, eu acho muito chato ter aquela vida que é só ir de casa pra escola, da escola para casa. Rotina de criança é muito chata e eu resolvi fazer várias coisas diferentes. Porque a vida sem música fica cinza e a minha é muito colorida!”

ORQUESTRA

Enquanto ensinava a neta, o violeiro e professor Jorcy sempre deu sequência ao projeto musical iniciado há 12 anos com a criação da Orquestra dos Violeiros Mirins de Campo Grande, que funciona no Bairro Jardim Campo Belo e chegou a ter 25 integrantes, todos formados pelas aulas de violão e viola caipira ministradas por ele. Hoje, o projeto se mantém com 11 integrantes e espaço aberto a quem quiser aprender. Esse projeto atende dezenas de crianças e adolescentes, na faixa etária de 7 a 16 anos. O maestro Jorcy ensina seus alunos a tocar a viola caipira de forma gratuita e sem apoio público, apenas contando com poucos colaboradores. “Ensinar os jovens é algo que me dá muito prazer, me dá ainda mais força de vontade para fazer as coisas, ajuda na saúde do corpo e da mente”.

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