A República hackeada: saiba quais autoridades podem ter sido alvo

Ighor Nobrega
Depois de a PF (Polícia Federal) deflagrar a Operação Spoofing –que culminou na prisão temporária de 4 suspeitos (saiba quem são)– integrantes dos Três Poderes afirmam ter sido vítimas dos supostos hackers. A própria corporação também tem indicado alguns nomes que teriam sido alvo do grupo.

O caso, antes centrado no ministro Sergio Moro (Justiça) e no procurador Deltan Dallagnol, agora atinge presidentes do Judiciário e do Legislativo. Além deles, congressistas e até o presidente da República, Jair Bolsonaro, reportaram invasões cibernéticas.

O ex-juiz publicou nesta 5ª (25.jul.2019) em seu perfil no Twitter que as autoridades não foram hackeadas por falta de cautela. E que “não havia sistema de proteção hábil”.

Moro também teria dito, em ligação ao presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro João Otávio de Noronha, que as mensagens obtidas pelos supostos hackers seriam descartadas. A PF, porém, afirma que vai preservar o material.

Eis os casos divulgados até o momento:

Jair Bolsonaro

O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou nesta 5ª feira (25.jul.2019) que o grupo hacker preso pela PF tentou invadir celulares do presidente Jair Bolsonaro. O ministério afirmou que, por questão de segurança nacional, o fato foi comunicado ao presidente.

Bolsonaro também publicou a informação em seu perfil no Twitter. “Um atentado grave contra o Brasil e suas instituições. Que sejam duramente punidos! O Brasil não é mais terra sem lei”, escreveu.

O Gabinete de Segurança Institucional informou nesta que disponibiliza ao governo federal, por intermédio da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), aparelhos com tecnologia da própria agência. Cabe às autoridades optar pelo equipamento. Leia a íntegra do comunicado.

Sergio Moro

O ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) disse que teve o celular invadido em 5 de junho. Quatro dias depois, o site The Intercept divulgou a 1ª reportagem da série que ficou conhecida como Vaza Jato, com mensagens em que o então juiz federal parece direcionar o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, em ações da operação.

Depois das prisões, o ministro comentou a decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, que determinou a prisão provisória dos suspeitos e na qual ele diz que foi apurado que os clientes da Brvoz, uma operadora do serviço de voz sobre IP, o Voip, realizaram 5.616 ligações em que o número de origem era igual ao número de destino.

“Leio, na decisão do Juiz, a referência a 5.616 ligações efetuadas pelo grupo com o mesmo modus operandi e suspeitas, portanto, de serem hackeamentos. Meu terminal só recebeu três. Preocupante”, disse.

O ministro afirmou ainda que os detidos são “a fonte de confiança” do Intercept.

Em nota, a assessoria do ex-juiz disse que o conteúdo roubado será destruído: “O ministro Moro informou durante a ligação que o material obtido vai ser descartado para não devassar a intimidade de ninguém”.

Paulo Guedes

A assessoria de imprensa do Ministério da Economia informou na 2ª feira (22.jul.2019) que o celular do ministro Paulo Guedes foi hackeado.

Por volta de 22h30, alguém abriu uma conta no aplicativo de mensagens Telegram usando o número de telefone do ministro.

“Vários jornalistas receberam mensagens e ligações em nome do ministro por meio do aplicativo Telegram. O Ministério da Economia ressalta que o ministro nunca teve conta nesse serviço e pede para que desconsiderem qualquer mensagem recebida do número antigo do ministro, que já será desativado”, diz o ministério, em nota.

Rodrigo Maia

O presidente do Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também teria sido alvo dos hackers presos na 3ª feira (23.jul). Contudo, a assessoria do deputado afirmou que os invasores não obtiveram sucesso, já que Maia teria deletado o Telegram, aplicativo mirado pelos supostos criminosos.

Maia disse ainda que não percebeu nenhum tipo de violação em seu aparelho celular e que o caso chegou a ele por meio dos jornalistas.

“O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, informa que não utiliza o aplicativo Telegram e que teve conhecimento de um suposto hackeamento pela imprensa”, disse em nota a assessoria do demista.

Davi Alcolumbre

Davi Alcolumbre (DEM-AP) também foi informado da suspeita de invasão pela imprensa. Por meio de nota, se disse tranquilo quanto ao conteúdo que poderia ser roubado, mas indignado por ter sua privacidade violada.

Eis a íntegra da nota do presidente do Senado:

“Passei esta quinta-feira (25), em Mazagão Velho, no município de Mazagão, interior do meu Amapá, participando das festividades de 242 anos de São Tiago.

Recebi a informação de que meu aparelho de celular teria sofrido tentativa de hackeamento. Embora tranquilo,pois não tenho nada a esconder, manifesto minha indignação com a invasão de minha privacidade e não posso deixar de reafirmar minha repulsa às atividades desses criminosos virtuais, pois elas também representam uma afronta aos Poderes da República e à população brasileira.

É o cidadão de bem que acaba ficando à mercê de grupos como este,detido pela Polícia Federal e que agem movidos por interesses desconhecidos, mas certamente, escusos, pois se valem de meios ilegais e visam o próprio benefício.

A ação indevida dos hackers leva ainda à produção de fake news, que só servem para gerar a confusão de informações e a manipulação da opinião pública. Combater este crime não é dever só da polícia, o legislador também deve colaborar com soluções e leis mais transparentes para o bem de todos. É isso que queremos debater na CPMI que vai investigar as notícias falsas no Congresso Nacional. Queremos ouvir os especialistas, as autoridades e os representantes das organizações civis em busca de uma resposta efetiva para impedir esse tipo de crime e promover a correta informação da sociedade.”

Raquel Dodge

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse nesta 5ª (25.jul) que seu telefone sofreu uma tentativa de ataque de hacker. Segundo a procuradora, a suspeita remonta a maio. Ela afirmou ainda que os hackers não conseguiram roubar nenhuma informação.

A tentativa foi descoberta pelo próprio Ministério Público Federal, que abriu 1 procedimento interno para apurar os supostos ataques aos celulares de integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba e no Rio.

Durante o processo de investigação, servidores da PGR descobriram que os ataques não deram certo porque o aparelho funcional usado por Raquel Dodge estava com o serviço de caixa postal desativado.

Após as tentativas de roubo de mensagens, a PGR determinou a troca de linhas telefônicas e o uso de um sistema interno de mensagens mais seguro.

Ministros do STF

Moro avisou ainda ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, que ministros do Supremo teriam sido hackeados.

O ministro ligou pessoalmente para os magistrados atingidos, mas os nomes deles não foram divulgados publicamente.

João Otávio de Noronha

O presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha, foi avisado pelo ministro Sergio Moro de que ele seria mais uma das vítimas dos supostos criminosos.

Noronha, no entanto, afirmou: “Estou tranquilo porque não tenho nada a esconder. E também usava muito pouco o Telegram”

Em nota, a Presidência do Tribunal também se manifestou. Eis a íntegra:

“O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, confirma que recebeu a ligação do ministro da Justiça, Sergio Moro, informando que o seu nome aparece na lista das autoridades hackeadas. O ministro do STJ disse que está tranquilo porque não tem nada a esconder e que pouco utilizava o Telegram. 

O ministro Moro informou durante a ligação que o material obtido vai ser descartado para não devassar a intimidade de ninguém. As investigações sobre o caso são de responsabilidade da Polícia Federal, a quem cabe responder sobre o caso.”

Joice Hasselmann

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso Federal, disse que seu celular foi clonado e usado para enviar mensagens e fazer ligações pelo aplicativo Telegram.

Em uma publicação na sua conta do Twitter no domingo (21.julho), a congressista disse que descobriu porque os “bandidos” enviaram mensagens ao colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim.

“Assim como aconteceu com o celular do nosso ministro (da Justiça) Sergio Moro, o meu telefone foi clonado. Foi invadido, foi clonado, e há bandidos farsantes encaminhando mensagens em meu nome através do Telegram. Um Telegram que não uso há muito tempo, desde a época da campanha”, afirmou.

Deltan Dallagnol

O procurador e coordenador da operação Lava Jato é outro alvo da Vaza Jato. Desde o início da divulgação das conversas, Dallagnol afirma ter sido vítima de hackers.

Em depoimento à PF (Polícia Federal) na noite de 3ª feira (23.jul),Walter Delgatti Neto, 1 dos presos suspeitos de invadir celulares de autoridades, admitiu que clonou o telefone de Dallagnol.

A informação foi divulgada pelo portal Uol, que teve contato com uma fonte ligada ao caso que pediu para não ser identificada.

Filipe Martins

Filipe G. Martins, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, publicou em seu perfil no Twitter nesse sábado (20.jul.2019) que é alvo de “hackers chineses”.

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